quarta-feira, 10 de novembro de 2010

foi há mais de 3 anos...



Remexendo em apontamentos passados, aqui fica um texto meu que encontrei, de 2007, comentando declarações de uma senhora que muito admiro, mas de quem, naquele momento, discordei... Algumas partes já desactualizadas, mas outras ainda assustadoramente actuais.

"falam da laranja
Foi hoje (23.02.2007) que o Diário de Notícias publicou um artigo de opinião de Maria José Nogueira Pinto, que sob o título "os labirintos da 'social-democracia' em Portugal" decidiu disparar contra o PSD, esclarecendo que o partido 'tem uma base de direita "sociológica" e "ordeira" dos finais do regime autoritário, recriada na situação de "perigo totalitário" causada pelo PC e pela esquerda radical, nos pós-25 de Abril' e que se juntou 'à volta de Sá Carneiro'.

Mais adianta a jurista (que costumava ser a próxima líder do CDS-PP) e vereadora da Câmara Municipal de Lisboa que 'o PSD nunca conseguiu explicar em que é que, "ideologicamente", diferia do PS' e 'foi votando um "líder" e quando não tinha líder (...) ficou fora ou aqueceu pouco tempo a "cadeira" do poder.

'Ora Maria José Nogueira Pinto, uma cara de competência política de inegável valor, conhecerá certamente a história da política portuguesa e, como tal, também a génese do PPD/PSD, bem como o seu programa e os seus princípios e valores.

O problema é que os partidos das esquinas do hemiciclo (à esquerda ou à direita) nunca perdoam aos grandes partidos de Governo - PS e PSD - os votos úteis que estes lhes roubam, pela moderação com que procuram governar, olhando a todos e não só a alguns. Porque um partido de Governo tem de ser um partido interclassista e não um braço político de sindicatos ou um grupinho de meninos queques e debutantes que criticam o status quo de um país, mas que quando convidados para formar coligações de Governo, vão logo a correr aceitar o lugarzinho, esquecendo tudo o que disseram até aí. Aliás, esquece-se também Maria José Nogueira Pinto que é o CDS-PP o partido que mais se arrisca desaparecer, na actual situação que atravessa (desaparecimento esse que, devo dizer, é prejudicial para a democracia portuguesa).

O PS e o PSD são diferentes. E se não o fossem, o CDS-PP coligar-se-ia hoje de bom grado com o governo socialista, como já o fez no passado. A única semelhança entre aqueles dois partidos mais ao centro é exactamente o sujeito da governação - ambos procuram governar para todos os portugueses. É por isso que elegem a maioria dos deputados.

a laranja tem sumo
PSD é o maior símbolo nacional do pluralismo de ideias (de tal forma que, por vezes, esse pluralismo transborda para a praça pública) - o que não se vê muito nos outros partidos, principalmente nos partidos de esquerda e centro-esquerda.

PSD significa afirmação da sociedade civil, porque não deve o Estado chamar a si o que os indivíduos podem fazer, valorizando a liberdade de iniciativa.

PSD é sinal de concertação, com tolerância e procurando sempre o acordo entre os diversos interesses.

PSD é o partido português que mais inspira, na sua base cristã, portugalidade, reformismo, igualdade de oportunidades, abertura económica e defesa do poder local.

Foi o PSD que mudou a expressão constitucional (artigo 1.º) "caminho para o socialismo" para "construção de uma sociedade livre, justa e solidária".

Talvez Maria José Nogueira Pinto já não se recorde, mas todos sabemos que, por várias vezes, esteve ao lado de governos social-democratas. Porquê? Porque a social-democracia portuguesa é muito diferente da social-democracia europeia. Não é socialismo. O socialismo é laico. A social-democracia portuguesa é cristã - como Portugal. O PSD é um partido que foi criado à imagem do povo português. E é por isso que é o único que, até agora, se manteve por mais anos seguidos no poder.

o futuro da laranja
É verdade que o actual estado do PSD não é o melhor. É verdade que a actual liderança não inspira futuro. Mas um partido não é o seu líder. Um partido não são os seus dirigentes. Um partido é um ideal que persiste às pessoas que por lá passam. Um ideal que, por ser sui generis e único, pode até parecer complicado para quem não sente o sumo da laranja a correr nas suas artérias, mas para quem o sente, não há dúvidas.

É um ideal nacional. É o verdadeiro partido português. É e inspira Portugal - com o que nele há de melhor e pior. É a senhora do Minho com brincos de filigrana, é o barco rabelo, é o desempregado que deixa a família em casa para partir para o estrangeiro, é o pauliteiro de Miranda, é o moliceiro, é o pastor beirão que não desiste de atravessar o monte coberto de neve, é o homem de barrete verde-rubro que nunca teme a cabeça do toiro, é o pescador nazareno que amanha as suas redes, é a varina de Lisboa que apregoa e desce a Avenida da Liberdade na noite de Santo António, é a alentejana que ainda insiste em ceifar, é o algarvio que pesca e cozinha tão bem o seu atum, é o açoreano, é o madeirense... E tantos outros... Ricos e pobres... E todos os outros portugueses que insistem em viver, aqui ou longe de Portugal.

São estes os portugueses em que pensaram os fundadores do PSD quando o fundaram. É para estes portugueses que o PSD existe e é para eles que o PSD deve trabalhar. Se não o faz agora, se não consegue fazer boa oposição agora, há-de consegui-lo... Mais cedo ou mais tarde. É uma questão de tempo. Dias, meses ou anos. Basta aos social-democratas e aos portugueses não desistir. Basta continuar a acreditar..."