Um Cavaco Silva irreconhecível, para quem, nos últimos cinco anos, se habituou a vê-lo como um chefe de Estado exageradamente apaziguador, tão diferente do austero primeiro-ministro de outros tempos.
Desta vez, parece que temos Presidente!
No discurso de (re)tomada de posse, demonstrou, finalmente, estar preocupado com o futuro do país e com as trafulhices a que temos assistido na política nacional da última década.
Apelou a um "sobressalto cívico" e exigiu aos jovens que não se resignem: "Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo!" Curiosamente, numa altura em que se prepara uma mega-manifestação sob o lema "Geração à rasca"...
Mesmo antes de um Conselho Europeu em que a situação financeira de Portugal vai, certamente, ser tema de discussão, o Presidente da República reempossado alertou para o "insustentável" estado deficitário do país, para a dívida pública e para os "encargos futuros com as parcerias público-privadas".
Parece, finalmente, auspiciar-se o malogro da "cooperação estratégica" e espera-se que a tão propalada "magistratura activa" seja muito mais do que vãs palavras.
Isto sim é Cavaco à antiga! Tínhamos saudades!
Parece que Cavaco está tentando pôr alguma lógica na bagunça institucional em que nos meteram. Por uma espécie de condescendência moral " meio " patológica, começo a convencer-me, não sem algum constrangimento, de que essa nova postura assumida por Cavaco Silva nada mais é do que uma manobra entrincheirada no poder.
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