segunda-feira, 28 de março de 2011

o peixe saltou do aquário


Vou a meio do voo...
E agora? Não posso voltar.
Lá dentro podia.
Mas tudo era igual.
Voltava sempre para trás,
para onde quer que me virasse.
E, no fundo, ficava sempre
no mesmo lugar.

Lá dentro era confortável.
Era quente, era agradável.
Lá dentro era seguro,
tudo era conhecido.
Tudo era aborrecido.
E, com o passar do tempo,
o ar gastava-se,
a água sabia pior.

Vou a meio do voo...
E agora? Como será cá fora?
Será igual ao que via,
através do vidro baço?
Via mas não vivia.
Via mas não tocava.
Via mas não me sabia.
Apenas via.

Cá fora tudo é maior.
Mais frio, mas desafiante.
Tudo é agora imprevisto,
duvidoso e periclitante.
Só que o ar não se gasta.
E sabe a liberdade.
Aliás,
não posso voltar atrás.

Vou a meio do voo...
E agora? Ah, não vejo a hora...
TMC, 2011

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